Em
muitos lugares os cristãos são reconhecidos pelos símbolos que portam: um
crucifixo no pescoço, uma imagem de Nossa Senhora na carteira, um sinal da cruz
quando passado por uma Igreja. Porém, há algo indispensável que todo católico
precisa carregar consigo para merecer o nome de Alter Christus, outro Cristo. E
essa herança o ladrão terreno não rouba, nem pode ser perdida num momento de
distração: são as virtudes teologais, fé esperança e caridade.
O que
são elas e por que tão importantes na vida do católico?
As
virtudes teologais: condição sem a qual não há outras
As
virtudes teologais são assim chamadas por descreverem nossa relação para com
Deus. Como o fundamento da vida religiosa é nossa atitude para com o divino,
estas virtudes se revestem de especial brilho. Além disso, elas também são o
fundamento das demais virtudes: não se pode ser humilde, por exemplo, sem crer
que há algo maior que si mesmo. Essas três virtudes nos são dadas na hora do
batismo, quando recebemos das águas abençoadas a graça santificante e a vida de
Deus em nosso coração. Elas se tornam o alicerce que nos fará receber também os
demais dons e favores divinos, como os sacramentos.
Para
aqueles que ainda não foram batizados, há como que “protótipos” de fé,
esperança e caridade na alma, moldes que aguardam a forma santa do Espírito
Santo para que realmente se tornem realidades. Já para os católicos, quando
pecam gravemente contra os dez mandamentos, estas virtudes são roubadas pelo
inimigo de nossa salvação, ficando apenas uma pontinha de fé e esperança, que é
onde atuará a graça do perdão. Porém, como não as temos em plenitude, não
podemos receber os sacramentos que exigem que estejamos em ordem com Deus, como
a comunhão.
Fé:
crer sem ver
A
carta aos Hebreus nos comunica, no seu capítulo 11, a definição santa do que é
a fé: “é o fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê”
e “sem fé é impossível agradar a Deus, pois para se achegar a ele é necessário
que se creia primeiro que Ele existe e que recompensa os que o procuram” (Hb
11, 1; 6). Assim, percebemos que a fé nos possibilita entrar em contato com o
sobrenatural, com a realidade que nossos olhos nos não alcançam. Sem a fé somos
como morcegos: cegos para o sol, mesmo que ele esteja tão evidentemente
presente.
Tendo
sabido que a fé é o fundamento da vida cristã, como fazê-la crescer? Pois, como
todas as coisas, a fé também cresce e diminui. Basta, para isso, que nós a
alimentemos. É consumindo bons materiais, como livros da vida de santos, da
doutrina cristã, além de ótimas conversas e colóquios, que a alimentaremos. Do
contrário, se a esquecemos, se frequentamos muitos lugares de pessoas sem fé ou
se nossa alegria consiste no pecado sem limites, nossa fé via minguando, até
uma hora que desaparece.
Esperança:
sem a qual seríamos cegos guiando outros cegos
Se a
fé nos permite que nos acheguemos perto de Deus, das realidades sobrenaturais,
é a esperança que nos permite ficar ali. De nada nos serviria saber da
existência do divino se não tivéssemos esperança de que um dia estaremos com
Ele.
Esta
esperança se revela em algumas etapas: a primeira é o medo da punição e o
desejo do prêmio. É ela que nos faz temer o inferno e a almejar o Céu, o que,
num primeiro momento, acaba sendo o motor inicial da prática das virtudes. Se o
maratonista se prepara com antecedência de seis meses para percorrer uma prova
árdua para conquistar o prêmio, por que o cristão também não poderia ter a
mesma motivação? Entretanto, em um segundo momento, quando a fé e a esperança
estão mais consolidadas e o coração mais em paz, tranquilizado contra a
agitação do mundo e do mal, a esperança se volta não para o objetivo, mas para
a essência. Não esperemos mais apenas escapar do inferno e alcançar o Céu, mas
sim estar com Deus. É esta a esperança perfeita, a mesma que canta Santa Teresa
d’Ávila: “Ó meu Deus, mesmo que não houvesse inferno, eu te respeitaria; e
mesmo que não houvesse Céu, eu te amaria”. É o auge da virtude da esperança.
Para
crescermos nela, precisamos também alimentá-la, como fazemos com a fé. Escritos
de misericórdia são uns dos mais indicados para os iniciantes na vida cristã,
como conversões e milagres. Pois, se até mesmo um Saulo, perseguidor ferrenho
da religião verdadeira, recebeu de Deus a graça e se tornou um são Paulo,
porque não pode acontecer o mesmo comigo?
A
caridade é a única que restará
Por
fim, o amor, a caridade. São Paulo canta hinos elegantes a ela em suas cartas,
e afirma que ela será a única das virtudes teologais com a qual entraremos no
Céu, pois a Fé se transforma em Visão e a Esperança em Realização, mas o amor…
o amor é eterno! São João vai mais longe: ele define o próprio Deus! Deus
Caritas est, e isso nos basta para compreendermos a profundidade da virtude da
caridade.
Ao
contrário do que pensamos, porém, a caridade exige uma purificação constante.
Nela não pode permanecer o que é humano. Começamos por amar aqueles que nos são
próximos por conveniência, por segurança, por interesse; mas devemos evoluir
nosso amor: é o mandamento de Cristo, “amai-vos uns aos outros como Eu vos
amei”. Em seu evangelho, Nosso Senhor brada: “Se amais somente aqueles que vos
amam, que recompensa tereis? E se emprestais somente àqueles de quem esperais
receber, que recompensa tereis? Sede misericordiosos, como também o vosso Pai é
misericordioso. Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis
condenados; perdoai, e sereis perdoados”. (Lc 6, 30-36).
Fonte:
https://www.arautos.org/secoes/artigos/doutrina/catecismo/saber-cristao-as-virtudes-teologais-304675
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