O Natal, para os cristãos, é o
nascimento de Jesus, o Cristo. E o que esta data tem a ver com o Joulupukki,
nome dado ao Papai Noel, na Finlândia; Julenissen, na Noruega; e com São
Nicolau, o amigo das crianças e santo protetor dos marinheiros, mercadores e
endividados?
Durante a pesquisa para o
livro Anjo Russo, a escritora Zia Stuhaug, que vive há dez anos na
Noruega, visitou Rovaniemi, na Finlândia, onde fica "o escritório
oficial" do bom velhinho. Veja o que ela descobriu sobre a lenda do
personagem natalino:
São Nicolau x Papai
Noel
Há uma grande semelhança na aparência, motivo pelo qual faz confundir estas
duas figuras distintas, mas tratadas como sendo um único personagem, sempre
relacionadas à época do Natal.
São Nicolau foi canonizado
pela Igreja Católica, por terem sido atribuídos a ele muitos milagres. Viveu
na cidade portuária de Myra, uma antiga cidade grega de Lykia — hoje, a
localidade de Demre, na Turquia —, no século IV, após ouvir os conselhos de um
tio para que viajasse à Terra Santa, depois da morte de seus pais. Dizem que,
no percurso da viagem, deu-se uma terrível tempestade e, quando São Nicolau
rezou, a calmaria se estabeleceu. Sendo assim, ele se tornou padroeiro dos
marinheiros e mercadores. Na Grécia antiga, ele era o amigo do mar, e as
pessoas acreditavam que, se invocassem o seu nome, ele poderia salvá-las
de se afogar, numa substituição a Poseidon, o deus pagão do mar, motivo pelo
qual muitas cidades costeiras levam o seu nome.
Dizem que ele era filho de
pais nobres e ricos e doou sua grande herança aos pobres. Mas há quem diga que
este fato pertence a outro santo, o São Basílio de Cesareia, também chamado de
São Basílio Magno ou Basílio, o Grande.
O fato é que São Nicolau nunca
foi apegado a bens materiais e sentia alegria em ajudar os necessitados. De uma
personalidade dócil e com tendência a auxiliar crianças e pessoas carentes, foi
tomado de zelo pela educação e moral, tanto dos pequenos quanto de suas mães, o
que levou os estudantes europeus a reverenciá-lo. Há na cidade de
Guimarães, em Portugal, uma festa estudantil chamada Festas Nicolinas, que se
realiza próximo da data da morte do Santo, dia 6 de dezembro, e em sua
homenagem.
São Nicolau foi o exemplo de
solidariedade ao próximo: certa vez, livrou três moças de serem enviadas à
prostituição pelo pai, um comerciante com a finança arruinada, que num momento
de desespero, por causa da extrema pobreza em que se encontrava, não tinha
recursos para sustentá-las, nem o dinheiro do dote para que elas pudessem se
casar. São Nicolau jogou três sacos de moedas de ouro pela chaminé da
casa da família, e o saco caiu em cima das meias das moças, que tinham sido
colocadas na lareira para secar.
São Nicolau foi amado e
reverenciado por toda a Europa, depois que seus restos mortais foram
transferidos para a cidade de Bari, na Itália, em 1807, e receber muitos
relatos de milagres por seus devotos, ele foi canonizado pela Igreja Católica.
Desde então, comemora-se no dia 6 de dezembro o Dia de São Nicolau. Sua imagem
e história de vida o popularizaram como um senhor de feições muito
serenas, trajado de bispo, com batina branca e estola vermelha e com mintra —
ornamento episcopal para a cabeça —, e as mãos firmes segurando um báculo
— tipo de cajado igual ao dos pastores de ovelha.
Pela sua bondade e afeição com
as crianças e pelo relato do saco de moedas de ouro jogado na chaminé da
família das três moças, logo os relatos se popularizaram, associando-o ao bom
velhinho com um saco de presentes nas costas. A imaginação popular não parou
por ali. Logo trouxeram alguns personagens do folclore europeu para lhe servir
de ajudante. Afinal, o saco com presentes era enorme e as crianças, muitas. E não
eram todas elas que podiam ganhar presentes e, sim, as que se comportassem bem
durante o ano. Assim, logo foi difundida a imagem, em desenhos, do ajudante de
São Nicolau.
Na Holanda tornou-se
popular São Nicolau (Sinterklaas) ter um ajudante chamado Pedro Preto
(Zwarte-Piet), que, segundo a lenda, tem essa cor devido às cinzas das chaminés
por onde ele tem que passar para deixar os presentes. Houve, recentemente,
protestos na Holanda para que este personagem, avaliado como de fundo racista,
fosse eliminado dos festejos natalinos, por criar desconforto na minoria
daquele país. Isto porque o ajudante tem características que se mostram bem
opostas à bondade de São Nicolau, sendo a ele atribuída a escolha das crianças
merecedoras dos presentes e doces natalinos, e, com isso, associado ao
Bicho-Papão ou Homem do Saco, cujas imagens de severidade impuseram medo à
criançada.
A origem do Papai Noel
Em 1700, os emigrantes holandeses levaram Sinterklaas à América, onde abriram
sua primeira igreja a São Nicolau em Nova Amsterdã e, mais tarde, em Nova
Iorque. Foi chamado de Santa Claus.
O teólogo Clement C. Moore
escreveu um poema para suas filhas, com o título: "Uma visita de São
Nicolau", em 1823. Uma senhora chamada Harriet Butler tomou conhecimento
do poema através das filhas de Moore e o levou ao editor do Jornal Troy
Sentinel, em Nova York, que o publicou no Natal desse mesmo ano, sem fazer
referência ao seu autor — só em 1844 é que Clement C. Moore reclamou a sua
autoria.
No poema, ele descrevia um pai
de família que, na véspera de Natal, estava tranquilo em sua casa, onde nem
mesmo um camundongo se movia. Ele ouviu um barulho no quintal e olhou pela
persiana. A noite estava clara por causa da luz da lua e o chão, forrado de
neve. Ele ficou surpreso ao se deparar com um trenó em miniatura, cheio de
presentes, puxado por oito renas pequenininhas, e conduzido por um velhinho tão
esperto e ágil, que andou pelo telhado e desceu pela chaminé para deixar os
presentes de Natal. Após encher as meias que estavam penduradas na lareira,
saiu da mesma maneira como entrou, ficando com o casaco vermelho cheio de
fuligem das cinzas. Ele soube naquele momento que era a visita de São Nicolau.
O poema descrevia um São
Nicolau de cabelos e barba tão branca quanto a neve. As bochechas rosa e o
nariz como uma cereja, rosto largo e uma barriga redonda e saliente que, quando
ele sorria, se mexia como uma tigela cheia de gelatina.
O Papai Noel de botas, de rosto corado e com característica polar, sentado em
uma cadeira no seu escritório, no Polo Norte, lendo uma lista de presentes
pedidos pelas crianças do mundo todo tornou-se muito popular. Aproveitando-se
dessa fama e interesse no personagem natalino, a Coca-Cola alimentou ainda mais
o imaginário popular ao lançar, em 1931, uma propaganda com a nova versão de
São Nicolau oferecendo a bebida a uma garotinha. Na imagem ele usava
casaco mais curto, um gorro vermelho no lugar da mintra, e tinha a barriga
saliente descrita pelo poema de Moore. Nascia a lenda atualizada da imagem do
Papai Noel que hoje vemos por todo lugar, em épocas natalinas.
A popularidade da nova versão
de São Nicolau, na figura de Papai Noel, fez tanto sucesso que a cidade
Finlandesa de Rovaniemi, que fica na divisa com o Polo Norte, investiu
para construir o correio oficial do Papai Noel: Santa Claus' Main Post Office,
em concorrência com Drøbak, na Noruega. Lá é possível sentar-se junto à lareira
e escrever cartas ao Joulupukki, enquanto duendes e elfos andam de lá para
cá, ajudando o bom velhinho a selar e despachar todas as cartas-respostas. O
correio fica dentro do complexo da Santa Claus' Village, no Círculo Polar
Ártico, e foi todo construído para se ter um Natal de sonhos. Luzes coloridas,
neve por toda parte, renas, cachorros huskies, e, se tiver muita sorte, aurora
boreal. O lugar é muitíssimo concorrido e, para se conseguir hospedagem, é
preciso reservá-la com bastante antecedência.
Fonte: https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2017/12/sao-nicolau-o-que-voce-precisa-saber-sobre-lenda-do-papai-noel.html