terça-feira, 25 de outubro de 2022

A relação entre filosofia e cristianismo para Justino, o Mártir

 


A relação entre filosofia e cristianismo para Justino se dá com a compreensão da existência da revelação desde a origem do gênero humano.

Padres apologistas

A filosofia encontra-se com o cristianismo quando os cristãos tomam posição em relação a ela. Nos séculos XII e XIII, a oposição entre os termos “philosophi” e “sancti” representa duas visões de mundo consideradas antagônicas: a visão de mundo pagã e aquela proclamada segundo a fé cristã.

Os chamados Padres Apologistas foram aqueles cristãos que, a partir do século II d.C. escreveram, em diálogo com a Filosofia, defesas da sua fé a fim de obter o reconhecimento legal para ela diante do Império.

A obra de Justino, Mártir, foi inserida nesse período. São duas Apologias e um Diálogo com Trifão. A primeira Apologia, escrita por volta do ano de 150 d.C., foi escrita para o imperador Adriano. A segunda, para o imperador Marco Aurélio. É em seu “Diálogo” que ele nos relata sua trajetória, da filosofia com motivação religiosa à religião com perspectiva filosófica: nascido em Flávia Neápolis, seus pais eram pagãos. A busca pela verdade o conduziu ao estudo da filosofia e sua conversão ao cristianismo ocorreu provavelmente antes de 132.

Primeiro, Justino se aproximou dos estoicos, mas os recusou por terem lhe dito que não era importante conhecer a Deus. Depois de se encontrar com um “filósofo profissional”, um mestre que cobrava por seus ensinamentos, Justino procurou um mestre pitagórico, mas se afastou dele por não querer dispor seu tempo para o estudo da música, da geometria e da astronomia. Encontrou afinidade com discípulos de Platão, que atendiam sua necessidade de pensar sobre as coisas corpóreas, mas também além delas, as ideias.

O encontro com o cristianismo se deu por meio de um ancião que conheceu durante um retiro. Ao ser questionado por ele a respeito de Deus, Justino tentou se valer das teorias de Platão. O ancião, então, esboçou uma refutação que, apesar de parecer simples, demonstrou a separação entre platonismo e cristianismo: a alma, segundo o cristianismo, é imortal porque Deus quer que ela seja.

Justino então leu o Antigo e o Novo Testamento. Ele nos diz: “Refletindo eu mesmo sobre todas aquelas palavras, descobri que essa filosofia era a única proveitosa”. Percebemos que Justino considerava o cristianismo como uma filosofia, mesmo sendo uma doutrina baseada na fé em uma revelação.

Essa revelação é anterior ao Cristo – é a tese que Justino defende em sua Primeira Apologia, baseado no conceito de “Verbo divino” do evangelho de João, e em sua Segunda Apologia, baseado no termo “razão seminal” do estoicismo: as pessoas que nasceram antes do Cristo participavam do Verbo antes dele se fazer carne; todos os humanos receberam dele uma parcela e, por isso, independente da fé que professavam, se viveram em conformidade com o ensinamento do Cristo, poderiam ser referidos como cristãos, mesmo que Cristo ainda não tivesse nascido. Em vez de ser o marco de “início” da revelação divina, Cristo seria seu ápice.

Desse modo, Justino resolveu dois problemas teóricos: 1) Se Deus revelou sua verdade apenas por Cristo, como seriam julgados aqueles que viveram antes dele? 2) Como conciliar a filosofia antes de Cristo, e, portanto, ignorante da verdade revelada, e o cristianismo?

Como, segundo defende Justino, os homens podiam agir de forma “cristã” antes do nascimento de Cristo, agiam em conformidade com o Verbo. Se agiam em conformidade com o Verbo, aquilo que disseram e pensaram podia ser apropriado pelo pensamento dos cristãos. É a esse respeito que Justino diz em sua Segunda Apologia (cap. XIII): “Tudo o que foi dito de verdadeiro é nosso”.

Se o pensamento de Heráclito, por exemplo, é considerado oposto ao pensamento cristão, o pensamento de Sócrates é considerado “parcialmente cristão”: ao agir em conformidade com a razão (Logos), esta é uma participação do Verbo; Sócrates (e também os demais filósofos que pensaram “o verdadeiro”) praticou uma filosofia que era o germe da revelação cristã.

Logos

De Fílon de Alexandria, Justino apropriou-se do conceito de “Logos” para estabelecer uma relação entre o “Logos-Filho” e o “Deus-Pai”. Vejamos o que ele diz:

“Como princípio, antes de todas as criaturas, Deus gerou de si mesmo certa potência racional (Loghiké), que o Espirito Santo chama ora 'Glória do Senhor', ora 'Sabedoria', ora 'Anjo', 'Deus', 'Senhor' e Logos (= Verbo, Palavra) (...) e porta todos os nomes, porque cumpre a vontade do Pai e nasceu da vontade do Pai*”.

Ou seja, entendemos aqui que Justino diz que o Cristo é a palavra proferida de Deus e pode ser denominado de diversas formas porque ele “porta todos os nomes”. A seguir, Justino faz uma comparação entre o Logos, no sentido acima, correspondente a verbo, e a fala humana para defender a possibilidade da coexistência de Deus-Pai e Logos-Filho:

“E, assim, vemos que algumas coisas acontecem entre nós: proferindo uma palavra (= logos, verbum), nós geramos uma palavra (logos), mas, no entanto, não ocorre uma divisão e uma diminuição do logos (= palavra, pensamento) que está dentro de nós*”.

O que Justino diz aqui é que, da mesma forma que quando nós dissemos uma palavra, o ato de falar não esgota nossa possibilidade de falar no futuro, ou diminui o número de palavras existentes, da mesma forma Deus-Pai ao pronunciar o “Verbo”, ou seja, com o nascimento de Cristo, isso em nada esgota ou diminuiu a sua divindade e onipotência. Outro exemplo que Justino nos oferece é o do Fogo:

“E assim vemos também que, de um fogo, acende-se outro fogo sem que o fogo que acende seja diminuído: este permanece igual e o novo fogo que se acendeu subsiste sem diminuir aquele do qua1 se acendeu*”.

A importância de Justino

Embora não tenha deixado uma filosofia sistemática, nem uma teologia cristã, temos ecos da obra de Justino em muitos pensadores cristãos posteriores. Sua obra não faz exposições gerais a respeito de teorias, nem as discute profundamente, nem pretende desenvolver concepções filosóficas. Justino, ao contrário disso, passa por pontos importantes da fé cristã que considera passíveis de justificativa.

Sua importância se dá pela novidade de interpretar a revelação cristã como o ápice de uma revelação que existe desde a origem do gênero humano. Assim como sua obra, sua morte foi também afinada com a sua fé: foi decapitado em 165, condenado pelo prefeito de Roma por se declarar cristão.

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As citações de Justino foram retiradas do Diálogo com Trifão p. 61-62. Retirado de: 
Padres apostólicos y apologistas griegos, Daniel Ruiz Bueno (BAC 116), Pág. 409-412.
Padres apostólicos y apologistas griegos (S. II). Organização: Daniel Ruiz Bueno, Biblioteca de Autores Cristianos, 1ª edição, 2002.


Por Wigvan Pereira
Graduado em Filosofia



Fonte: Brasil Escola - https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/a-relacao-entre-filosofia-cristianismo-para-justino-martir.htm

 

terça-feira, 18 de outubro de 2022

Deus quer que saibamos buscá-Lo no amor e na fé

 


Oração é busca de Deus. Porém, nem sempre é fácil encontrá-Lo ou reconhecê-Lo entre nós. Deus entra na nossa história e mistura-se conosco. O Verbo se fez carne de forma muito humilde, simples e pobre, totalmente despretensiosa. Enquanto as filhas dos nobres preparavam seus castelos para receber o Messias, Ele preferiu nascer pobre, num estábulo, desprovido da exuberância e do perfume do palácio dos reis. Assim foi, e, embora muitos judeus esperassem grandes manifestações na vinda do Messias, Ele veio discreto e silenciosamente.

Às vezes, não encontramos Deus porque Ele não se revela como gostaríamos. Ele exige de nós uma total purificação do nosso ser. Precisamos nos esvaziar para sermos preenchidos pela Sua força. A exigência da oração é o total desapego, e somente assim somos inundados por aquela luz especial que possuem apenas os que procuram o rosto de Deus “com ânsias de amor inflamado”: “Tua face, Senhor, eu busco. Não me escondas o teu rosto!”.

Minha experiência pessoal revela – e os outros confirmam –, que o encontro com Deus não é estático, mas dinâmico, por isso mesmo, sempre novo. Quando pensamos que o encontramos e “agarramos”, Ele “escapa”, esconde-se e nos deixa num profundo sentido de desolação. É o caminho da noite que precisamos aprender a trilhar silenciosamente e a sós, esperando que o Senhor apareça novamente quando lhe aprouver. A nós cabe gritar e procurar, a Ele cabe responder. A saudade de Deus é uma doença tão forte, que somente se cura “com Sua presença e figura”.

Saber esperar

Atualmente, não sabemos esperar. O mundo da tecnologia gera a impaciência. Queremos que tudo seja “para ontem”, esquecemos que existe também o amanhã. O saber esperar é uma atitude bíblica. No caminho da oração, saber esperar o momento de Deus quer dizer que Ele nos visita quando menos esperamos e que a nós cabe a vigilância, como virtude de quem sabe que, mais cedo ou mais tarde, Ele virá nos visitar.

Na escola dos profetas e místicos, aprendemos a virtude da esperança. As demoras de Deus são pedagógicas. O orante é, antes de mais nada, homem e mulher de esperança, que não se cansa de bater até que a porta se abra, nem de procurar até que encontre, nem de pedir até que obtenha o que mais deseja.

Esperar é lançar os olhos além de todos os pequenos horizontes da vida e crer que o Senhor da história nos prova, mas não nos abandona. Ele quer que o procuremos com a intensidade da esposa que busca o seu esposo, como os olhos dos servos que esperam tudo do seu Senhor. O salmista anima: “Coragem! Espera no Senhor!” (Sl 26). Nessa coragem, são superados os medos e as incertezas da fé. A esperança é alimentada pelo amor. Só espera quem tem fé e quem ama. A vivência das virtudes teologais se faz indispensável para quem quer se tornar um orante. Deus não se deixa manipular pelos nossos sentimentos ou exigências humanas; Ele sabe como e quando vir em nosso socorro.

Ir a Jerusalém

A Palavra de Deus sempre nos ensina o caminho da oração. Na vivência da Palavra e na sua meditação, encontramos o caminho que devemos seguir para encontrar o Senhor. O texto de Lucas 2,41-50 ajuda-me na busca de Deus. Sempre encontro o Senhor em Jerusalém, na “cidade santa”, que não fica em determinado lugar, mas no coração de cada um de nós.

Somos a nova Jerusalém, para onde devemos ir todos os dias para estar com o Senhor. Ir a Jerusalém quer dizer que é preciso desinstalar-se, sair de si, romper com todas as formas de comodismo e, sem medo, enfrentar todas as dificuldades que podem estar no caminho. Quem se coloca a caminho é movido por um forte ideal. Orar é “subir a Jerusalém”, tomar uma “determinada determinação”, saber que “vida cômoda e oração não podem combinar”, que somente o amor pode nos convencer a deixar a vida tranquila do nosso dia a dia e procurar o Senhor que nos espera para nos amar.

Maria, José e Jesus, todos os anos, deixavam a tranquilidade de sua casa, em Nazaré, enfrentavam as dificuldades do caminho, pobreza, cansaço, para irem a Jerusalém prestar a adoração devida ao Senhor. Um caminho que tem o sabor do êxodo, carregado, sem dúvida, de dor e cruz. Mas eles sabiam que, no Templo de Jerusalém, o Senhor os esperava. A leitura silenciosa e meditativa deste texto nos faz compreender como deve ser o caminho da nossa oração.

Jesus, aos doze anos, no Templo

“Todos os anos, na festa da Páscoa, Seus pais iam a Jerusalém. Quando Ele completou doze anos, subiram a Jerusalém segundo o costume da festa. Acabados os dias de festa, quando voltaram, o Menino Jesus ficou em Jerusalém, sem que os pais o percebessem. Pensando que estivesse na caravana, andaram o caminho de um dia e o procuraram entre os parentes e conhecidos. Não O achando, voltaram a Jerusalém à procura d’Ele. Três dias depois, encontraram-nO no Templo, sentado no meio dos doutores, ouvindo e fazendo perguntas. Todos que O escutavam maravilhavam-se de Sua inteligência e de Suas respostas.

Quando O viram, ficaram admirados; e Sua Mãe Lhe disse: “Filho, por que agiste assim conosco? Teu pai e eu, aflitos, te procurávamos”. Ele respondeu-lhes: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que eu devia estar na casa do meu Pai?”. Eles não entenderam o que lhes dizia. Depois, desceu com eles e foi para Nazaré, e lhes era submisso. Sua Mãe conservava a lembrança de tudo isso no coração. Jesus crescia em sabedoria, idade e graça diante de Deus e das pessoas”. Passados os dias da Páscoa, voltaram.

Coloquemos em evidência alguns aspectos concretos para a nossa vida de oração

A oração é um momento de alegria, de Páscoa, de festa, mas não pode durar para sempre. Deus nos chama à intimidade com Ele, convida-nos a subir a montanha para experimentarmos Sua presença, ou ao deserto, porque quer falar ao nosso coração no amor e na solidão, ou nos desperta na noite para dialogar conosco e nos apresentar Seus projetos. Mas, depois desses momentos de intimidade, Ele quer que voltemos às nossas atividades e sejamos testemunhas autênticas do Seu amor.

A fidelidade e firmeza do orante não se provam enquanto ele está orando, mas no cotidiano da vida. É sua maneira de agir, de falar, de ser que torna visível sua amizade com Deus. É interessante como, na Bíblia, temos sempre essa atitude da intimidade com Deus, que dá forças para voltarmos aos nossos compromissos humanos. Cada vez mais compreendo que entre oração e ação, entre contemplação e atividade não pode existir “divórcio nem desquite”, mas, ao contrário, uma profunda união. Na oração, revela-se a nossa atividade, e na atividade se manifesta a autenticidade da nossa oração.

Maria, José e Jesus não ficaram para sempre no Templo. Depois da festa da Páscoa, puseram-se novamente a caminho. Assim, depois de nossos momentos de oração, de retiro e encontro, devemos voltar ao trabalho. Toda Páscoa, que é domingo, devolve-nos à “segunda-feira”, que é trabalho e labuta onde devemos procurar ser fermento e ganhar o pão com o suor da nossa fronte.

O Menino ficou em Jerusalém “sem que os Seus O notassem”

Essa expressão de Lucas pode nos ajudar a entender como, embora voltando ao trabalho, devemos permanecer unidos ao Senhor na oração. A intimidade, a vida na presença de Deus nunca pode ser interrompida. Quer comamos, bebamos ou façamos outras coisas, sempre devemos agir em Deus.

Maria e José retomaram o caminho de volta, quem sabe preocupados com os afazeres que os esperavam em Nazaré, mas Jesus permaneceu em Jerusalém. Nunca devemos “sair” do clima de contemplação e intimidade. Deus quer que estejamos, constantemente, unidos a Ele, que não nos separemos do Seu amor nem da Sua presença. Essa linguagem bíblica nos compromete à vivência sempre em plena sintonia com o Deus da vida. Os místicos e santos sempre nos recordam disso. João evangelista, quando diz que “Deus é amor”, convida-nos a permanecermos n’Ele, porque Ele sempre permanece em nós.

Maria e José não se preocuparam com Jesus. Pensavam que Ele estivesse com os outros, na caravana que voltava feliz e cantando de Jerusalém. A Páscoa cria um novo clima de fraternidade, “caminharam um dia inteiro” despreocupados. Mas, ao entardecer, sentem a necessidade de se unirem novamente a Jesus. Também nós passamos o dia inteiro preocupados com tantas coisas, mas, ao cair da noite, sentimos a necessidade de buscar novamente o Senhor para estar com Ele, para entrar em comunhão, para experimentar, numa forma mais forte, a presença do Amado, como fizeram Maria e José, mas nem sempre O encontramos.

Não O tendo encontrado…

A dor da decepção é sempre muito grande. Essa dor foi experimentada por Maria e José que, buscando Jesus, não O encontram entre os amigos e parentes. Se eles, que cuidavam tanto de Jesus, estavam sempre presentes em tudo aos desejos e ao cuidado de Jesus, perderam-nO de vista, tanto mais isso pode acontecer com cada um de nós. Podemos buscar Jesus e não O encontrar, pedir que outros nos ajudem e ninguém saber nos ajudar. Podemos viver momentos de desnorteamento nesta procura de Jesus. A experiência humana da nossa fragilidade nos faz sentir impotentes e tristes. Nem sempre encontramos Jesus onde “esperamos que Ele esteja”. Mas, graças a esta perda de Jesus, a Bíblia nos oferece o segredo onde devemos voltar a encontrá-Lo, onde Ele sempre nos espera.

Voltaram a Jerusalém

Aqui está o verdadeiro segredo da oração: voltar a Jerusalém. Se nos acontecer, depois de um dia de viagem, de “perdermos Jesus”, não devemos nos desesperar. Devemos pedir a todos que nos ajudem a encontrar novamente o Senhor.

Se, no entanto, as criaturas forem incapazes de nos dizer onde está o Senhor, resta-nos o caminho de volta para Jerusalém, para o santuário, para o lugar onde o Senhor nos espera. E onde está Jerusalém? No nosso coração, na Palavra de Deus, na Igreja… Deus jamais desiste de nós, mesmo quando não O sentimos.

Voltemos a Jerusalém, onde o Senhor nos espera sempre para novamente entrarmos em comunhão conosco! Ele quer que saibamos buscá-lo no amor e na fé. Quando o encontramos, Ele desce conosco para Nazaré, para a vida, e permanece conosco para sempre.

Frei Patrício Sciadini, OCD

Fonte: https://formacao.cancaonova.com/espiritualidade/vida-de-oracao/deus-quer-que-saibamos-busca-lo-no-amor-e-na-fe/


segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Na escola da oração: Jesus é o modelo



Jesus é o grande orante, e só podemos seguir o Senhor sendo orantes como Ele.

Um dia, Jesus estava orando num certo lugar. Quando terminou, um de seus discípulos lhe pediu: “Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou a seus discípulos”. 36

Fica claro, nessa passagem, que Jesus parava para rezar. E nós só aprendemos a rezar estando com Jesus, por isso seus discípulos vão pedir para que Ele os ensine. Em seguida, Ele ensina a oração do Pai-nosso. É a oração de Jesus que desperta no discípulo o desejo pela oração. Assim, nós podemos participar da oração d’Ele.

Jesus nos ensina a orar, pois é a oração que nos aproxima d’Ele

A oração que o Senhor ensina nos permite ter um acesso ao Pai como Ele sempre teve. Jesus tinha uma relação pessoal e absoluta com o Pai. Como Ele nos ensinou a rezar, podemos também acolher essa relação. A oração implica relação filial.

Através da oração que o Senhor nos ensina, abre-se um caminho de conversão e verdade, pois a verdadeira oração nos abre à verdade e deve brotar da verdade.

A oração que Jesus nos ensinou nos põe na presença do Pai e deve gerar confiança em quem reza.

Quem reza precisa pedir ao Senhor que o ensine a orar, pedindo a graça e a luz para conseguir penetrar os segredos da oração, a fim de que consiga levar uma vida cristã autêntica e verdadeira. “Todas as coisas têm por fim a oração” (São Francisco de Sales).

O que é a escola da oração?

A escola de oração diz de aprendizado, ou seja, para rezar é preciso aprender. Todos os dias, precisamos aprender uma nova lição da oração; não é algo acabado. Nessa escola, Jesus é o Mestre que nos ensina a rezar.37 N’Ele, temos uma oração livre, verdadeira e autêntica. Ele sempre será o modelo e mestre.

Precisamos entrar na escola de Jesus, que é uma escola de oração. Jesus sempre teve um diálogo íntimo e constante com o Pai; a oração gera em nós esse diálogo íntimo e comunhão profunda.

Nessa escola de oração, não podemos esquecer que o homem precisa tomar consciência de si mesmo e de Deus. Quem reza precisa ser dependente de Deus, precisa entender quem é Deus e quem é o homem, além de saber qual o lugar de Deus na oração e o lugar de quem reza. Nesse sentido, podemos destacar três grandes personagens bíblicos que nos ajudam a entender o verdadeiro sentido da oração, de se colocar diante de Deus nessa escola de oração. Queremos olhar para a oração de Tobias,38 Judite39 e Ester40 como um modelo a ser seguido.

Eles confiaram na intervenção de Deus, mesmo tendo uma angústia ou aflição que os invadiam; eles não se desesperaram, mas rezaram e se colocaram na presença de Deus. O primeiro ponto é colocar-se na presença de Deus, reconhecer quem é Deus, os seus feitos, a sua ação na História, e como o Senhor se manifestou. Trata-se de reconhecer a identidade de Deus: O Senhor, Deus misericordioso e clemente, paciente, rico em bondade e fiel, que conserva a misericórdia por mil gerações e perdoa culpas, rebeldias e pecados, mas não deixa nada impune…41

Em seguida, eles se reconheceram como pecadores, como infiéis e dependentes de Deus. Olharam para sua condição de fraqueza, seus pecados e até onde haviam chegado por não observarem os mandamentos.

E para concluir, na oração eles pediam a intervenção poderosa de Deus diante da situação: “[…] ouve a minha súplica [… ]”,42 “agora, vem em auxilio a esta órfã […] e a nós, livra-nos das mãos dos nossos inimigos; converte o nosso luto em alegria e as nossas dores em salvação”.43

E rezamos por quê?

Porque nos interrogamos sobre nossa existência, porque queremos respostas, porque nos sentimos solitários e abandonados, porque nos sentimos encurralados pelo dilema entre bem e mal, pelo sofrimento e desespero, e isso nos impulsiona a buscar a Deus como solução definitiva, concreta; rezamos a fim de obter força interior para vencermos. Rezamos porque queremos ser íntimos e amigos de Deus. Rezamos porque queremos ter acesso à vida de Deus. O socorro sempre virá via oração.

Rezar nunca será fácil, pois requer um mover do homem em direção ao sobrenatural; e além de tudo, é um dom de Deus. Precisamos ter posição de gratuidade e gratidão, de dependência e humildade.

Na oração, o homem tem a possibilidade de abrir o coração de Deus. O dom da oração nos leva à conversão. Na oração, o Senhor nos revela quem somos e o que precisamos ser. Deus sempre dá o primeiro passo em direção ao homem em oração, porque Ele o ama.44

O homem não deve orar por orar, mas querendo ser ouvido. Não para ouvir a si mesmo, mas para que Deus lhe responda. Não para querer a resposta que brota do seu coração, e sim a resposta de Deus para a situação. A melhor resposta da oração é aquela que Deus dá.

Qual é a melhor oração?

A melhor oração é aquela em que o homem esquece de si mesmo e foca em Deus, mesmo que seu coração queira muitas respostas. Deus sempre será o começo, o meio e o fim de toda oração.

O Senhor nos faz a recomendação de orar sempre.45 Isso significa que precisamos viver em estado de oração como Ele. Com isso, a nossa vida deve ser toda permeada pela oração, em sintonia com Deus. Que façamos da nossa vida uma oração: ações, gestos, palavras etc. Façamos tudo em Deus, com Deus e para Deus.

Jesus não perdia tempo. Para o bom rendimento de sua missão e vida, Ele aproveitava todas as oportunidades para estar em oração.

Fonte: https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/na-escola-da-oracao-jesus-e-o-modelo/

 

 

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Levar ao mundo um pouco de ternura e amor

 


Conta-se que Madre Teresa de Calcutá, em um momento difícil na comunidade por ela fundada, escrevia às filhas espirituais (Irmãs da Caridade):

Sejam amáveis umas com as outras. Prefiro que cometam erros com amabilidade, do que façam milagres com falta dela.  Sejam amáveis sempre. Contemplem a amabilidade de Nossa Senhora, vejam como Ela falava, como ela agia. Olhem para seu exemplo. Ela podia perfeitamente ter revelado a São José a mensagem do Anjo a respeito do nascimento de Cristo, mas escolheu o silêncio, não disse uma palavra. E nessa altura, vendo seu amor, Deus interveio diretamente em seu favor. Maria guardava todas estas coisas no seu coração, eis a grande lição! E quem nos dera podermos guardar todas as nossas palavras no coração Dela.

Para que tanto sofrimento e tantas incompreensões? Basta uma simples palavra, um olhar, uma pequena ação sem amor e o coração da vossa Irmã mergulha na escuridão. Não deve ser assim. Peçam a Nossa Senhora que vos encha o coração de doçura.

O amo tem a força de mudar o mundo

É como se a Madre nos dissesse, com sua vida, até muito mais do que com suas palavras: decidam-se pelo amor, pois esta é a única força que pode mudar o mundo. E sabendo o quanto precisamos de referências, mostra-nos o melhor exemplo: a Virgem Maria.

Portanto, olhemos para a Virgem Maria, Ela é o exemplo perfeito de quem decidiu amar na simplicidade sem se preocupar em fazer coisas extraordinárias aos olhos humanos. Inspirados em seu exemplo, tenhamos hoje a coragem de levar com nossas palavras e atitudes, luz aos corações ou invés de trevas.

A Madre Teresa fez desta escolha a sua missão durante toda a vida. Em meio às grandes provas pelas quais passou, vivendo a “noite escura da alma”, escreveu ao seu Diretor Espiritual: “Um caloroso sim a Deus e um grande sorriso para todos, são as únicas duas palavras que me mantém seguindo em frente”, e esta escolha corajosa causou tantos benefícios ao longo de sua vida, que escreveria o resto do livro narrando os testemunhos que não param de acontecer através de sua obra.

Aprendendo com as demoras de Deus

Tomemos a decisão de seguirmos em frente vivendo as demoras de Deus com um sorriso nos lábios e um caloroso
sim a Sua vontade que nos chama a optarmos sempre pelo amor, mesmo que cometamos erros, pois o amor é, certamente, o maior milagre do qual o mundo carece. E saber esperar com alegria e leveza é uma arte nobre e rara, porém ao alcance dos que têm Deus como seu aliado.

Dizem que a vida tem a cor que agente pinta, e são nossas escolhas que irão definir seu colorido. Duas pessoas podem, por exemplo, sofrer um acidente juntas, mas cada uma vai dar um sentido diferente à situação. Um pode levar uma vida inteira agradecendo a Deus por ter lhe poupado a vida e mudar completamente os seus hábitos, reconhecendo que cada dia que vive é um verdadeiro milagre, pois poderia já não existir; e a outra pode ter escolhido lamentar-se o resto da vida porque aquele acidente lhe deixou sequelas, porque tal pessoa foi culpada pelo que aconteceu, porque, afinal, estas coisas só acontecem com ele etc.

Então, de qual grupo você faz parte?

Independentemente de sua resposta, eu posso afirmar, com toda certeza, que você é um grande milagre, e reconhecer
isso transforma seu jeito de encarar a vida. Pense bem em tudo que você já viveu até hoje, volte no tempo, analise sua história, os fatos de que você se recorda, as histórias que lhe contaram a respeito de seu nascimento, sua infância, os livramentos pelos quais você passou.

Tenho certeza que logo você vai perceber o quanto Deus tem cuidado de você, livrando sua vida da morte e demonstrando sua presença de diversas formas. Talvez o que tenha até hoje lhe inquietado o coração seja o fato de querer ver seus sonhos realizados no seu tempo, do seu jeito, sem precisar esperar tanto. Mas lhe garanto que esperar com alegria e confiança em Deus é o que dá sentido à sua existência, porque a alegria é algo essencial na vida humana.

Fonte: https://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/levar-ao-mundo-um-pouco-de-ternura-e-amor/

 

 

Feliz Ano Novo!

 É hora de receber o  Ano Novo  com alegria e esperança no coração. De deixar o ruim no passado, e abraçar o futuro com otimismo. Vamos faze...