Religiosos e estudiosos
analisam como a mensagem da cruz pode trazer algum tipo de ensinamento para
este momento de pandemia
Retratada
no livro de Mateus, da Bíblia Sagrada, a ressurreição é um marco para a fé
Cristã e relatada nas mais diversas religiões. A história detalha o retorno à
vida de Jesus Cristo ao terceiro dia depois de ser crucificado, morto e
sepultado. A sexta-feira santa marca o dia da crucificação e o domingo, o
renascimento. O fato é celebrado na Páscoa, a maior e mais antiga festa do
Cristianismo. No sentido literal, a palavra ‘ressurreição’ significa ressurgir;
erguer ou levantar. Diante do cenário atual em que o mundo vive após a pandemia
do novo coronavírus, a mensagem carregada pela história da cruz pode trazer um
novo significado para a humanidade.
Para o
teólogo Rodrigo Alves, a ressurreição garante àqueles que creem na história que
eles não estão sozinhos durante este momento caótico. “Um dos aspectos mais
importantes na ressurreição de Jesus Cristo é acreditar em um Deus vivo. E essa
prova que nós temos, biblicamente falando, ela pode ser encontrada no Evangelho
de São Mateus, capítulo 28, versículo 20, quando Jesus vai dizer: ‘Eis que
estou convosco todos os dias’. Ele está garantindo que está conosco. Não existe
a possibilidade de um Deus morto estar presente na vida de alguém”, diz o
teólogo.
“Neste
período que estamos vivendo, neste caos, partindo do coronavírus, a
ressurreição garante a sua presença conosco, com aqueles que creem e o seguem.
Agora isso não quer dizer que estamos blindados ou estamos com um escudo, mas
nós temos a garantia da presença desse Deus conosco”, completa Rodrigo.
A ressurreição, o Cristianismo
e a Covid-19
Segundo
o pastor Rodrigo Botelho, da Igreja Verbo da Vida Jaboatão dos Guararapes, em
Pernambuco, o ensinamento de toda a história vem antes mesmo da ressurreição,
propriamente dita. “Para haver a ressurreição de Jesus Cristo, foi necessário
que ele fizesse o sacrifício de morrer pela humanidade. A primeira mensagem é o
tão grande amor que Deus amou toda a humanidade a ponto de enviar seu filho
unigênito para que morresse pagando o pecado de todas as pessoas”, afirma.
O
pastor ainda destaca a mensagem de esperança ligada à história da cruz e lembra
que, para o Cristianismo, o que é vivido hoje é passageiro. “Jesus pagou o
preço dos nossos pecados e ressuscitou. Todo aquele que nele crê não ficará na
morte, mas também irá ressuscitar. Muitas vezes, nós nos apegamos tanto à essa
vida terrena que só o pensamento de deixá-la, deixa as pessoas atônitas e em
desespero. Quando na realidade, aqui na terra, estamos passando um tempo. Mas
irá ter o tempo da volta daquele que ressuscitou”, alega o pastor.
“É
lógico que neste assunto só vai crer aquele que tem fé. Mas a mensagem da
ressurreição é uma mensagem de esperança dizendo que Deus amou o mundo a tal
ponto que Jesus morreu e ressuscitou e todo aquele que nele crê não vai ficar
na morte. Deus ama a humanidade e tem um plano melhor para ela”, encerra.
Assim
como Rodrigo, o também Pastor, Carlos Júnior, da Igreja Verbo da Vida Zona
Norte, no Recife, acredita que além, da esperança, a ressurreição carrega a
mensagem de que terá um novo tempo pela frente. “Creio que nós podemos aprender
sobre recomeços. A ressurreição fala sobre de uma nova vida. Essa é uma grande
oportunidade das pessoas recomeçarem uma nova história”, diz Carlos.
“Ressurreição
fala de um começo de uma nova vida e eu creio que essa é a maior lição que
devemos tirar para esse tempo. Temos que saber que, após esse período, haverá
novos começos para empresas, negócios, empreendimentos e que as pessoas não
devem ficar com medo”, acrescenta. Além do lado religioso, a história da
ressurreição pode ser analisada, estudada e explicada por outros vieses.
A ressurreição e a sociologia
Para o
professor de sociologia e filosofia João Pedro Holanda, os sociólogos e Jesus
têm muitas semelhanças entre si. “Podemos dizer que muitos autores, ao analisar
a sociedade, detectaram problemas como egoísmo, a falta de empatia, falta de
alteridade, e, portanto, propuseram como soluções para resolver esses grandes
males sociais, a tentativa de uma educação mais solidária, mais crítica,
formadora do sujeito”, aponta o professor.
“Em
outras palavras, quando Jesus se propõe a ajudar os que mais precisam, ajudar
os mais vulneráveis socialmente, ele se aproxima muito do que boa parte dos
sociólogos tem tentado fazer. Estudar as condições de vulnerabilidade, entender
as condições que levam as pessoas a estarem em condições desumanas. E mais do
que isso, sendo a sociologia uma ciência sempre prática, os sociólogos também
têm a intenção de resolver esses problemas e propor soluções”, continua.
“Assim
como Jesus, de alguma forma, amparou os desamparados, acho que a sociologia vem
cumprindo esse papel também. Não só analisar e descrever as desigualdades do
contexto social que a gente vive, mas propor soluções para resolver e,
portanto, propor amor e esperança”, conclui o docente de sociologia.
A ressurreição e a história
“Historicamente
e também teologicamente, o significado da ressurreição, em várias religiões,
não apenas no Cristianismo com Jesus, mas também, por exemplo, Osíris para
mitologia egípcia, quando ela aparece em alguma crença religiosa, ela está
sempre atrelada à questão da superação. A questão de ir além”. É assim que o
professor de história Pedro Botelho explica o significado da ressurreição para
a história. Segundo ele, na Ciência Humana, a principal mensagem do retorno à
vida de Jesus é a transcendência dele.
“A
ressurreição para o Cristianismo, não só no primitivo, que é o início da
religião Cristã, ali nos Séculos I, II e III, que é quando o Cristianismo chega
à Roma e começa a se espalhar, a noção de que Jesus era um homem pobre, um
judeu da Galileia, que pregou uma nova mensagem religiosa, uma nova mensagem de
amor, e que ele passa do humano, morre e transforma-se numa figura divina. É
isso que a ressurreição, normalmente, deixou para posteridade, para a
história”, explica Pedro.
“Historicamente,
a gente vai ter essa posição reafirmada a partir do Concílio de Niceia, em 325,
que é quando o Império Romano passa a aceitar o culto cristão e que os
primeiros líderes das igrejas cristãs começam a deliberar sobre quais são as
crenças corretas e aí a ressurreição de Cristo é uma das primeiras coisas a se
esquematizar, além da questão da Santíssima Trindade. E a grande mensagem que é
passada é a transcendência dele. Ele ascende, cresce, se transforma em uma
figura sagrada, sobe ao Reino dos Céus a partir da ressurreição”, encerra.
Pedro
Botelho também acredita que é possível tirar uma lição com toda essa história
cristã para os tempos atuais de pandemia. “Além de ser uma data comemorativa
religiosa, ela ensina a gente a se superar, nos ensina a passar pelas
provações, a passar pela dor, para que a gente possa ser mais além. A mensagem
principal, da ressurreição de Cristo, é isso. É ser mais, ser maior. É passar
pela dor e entender a nossa humanidade”, finaliza o professor de história.
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