Discurso
do Papa Francisco na Audiência Geral na ocasião do 50º Dia Mundial da Terra, 22
de abril de 2020.
Bom dia,
estimados irmãos e irmãs!
Hoje
celebramos o 50º Dia Mundial da Terra. É uma oportunidade para renovar o nosso
compromisso de amar a nossa casa comum e de cuidar dela e dos membros mais
fracos da nossa família. Como a trágica pandemia do Corona vírus nos demonstra,
só unidos e cuidando dos mais frágeis podemos vencer os desafios globais. A
Carta Encíclica Laudato si’ tem precisamente este subtítulo: “Sobre o cuidado
da casa comum”. Hoje refletiremos um pouco juntos sobre esta responsabilidade
que distingue a nossa passagem por esta terra. Temos que crescer na consciência
do cuidado da casa comum.
Somos
feitos de matéria terrena, e os frutos da terra sustentam a nossa vida. Mas,
como nos recorda o Livro do Génesis, não somos simplesmente “terrestres”: temos
em nós também o sopro vital que vem de Deus (cf. Gn 2,47). Portanto, vivemos na
casa comum como uma família humana e na biodiversidade com as outras criaturas
de Deus. Como imago Dei, imagem de Deus, somos chamados a cuidar e respeitar
todas as criaturas e a nutrir amor e compaixão pelos nossos irmãos e irmãs,
especialmente pelos mais fracos, à imitação do amor de Deus por nós, manifestado
no seu Filho Jesus, que se fez homem para partilhar conosco esta situação e
para nos salvar.
Devido
ao egoísmo, falhamos na nossa responsabilidade de guardiães e administradores
da Terra. Basta olhar a realidade com sinceridade para ver que há uma grande
deterioração da nossa casa comum. Poluímo-la, saqueámo-la, colocando em perigo
a nossa própria vida. Por isso, formaram-se vários movimentos internacionais e
locais para despertar as consciências. Aprecio sinceramente estas iniciativas e
ainda será necessário que os nossos filhos saiam às ruas para nos ensinar o que
é óbvio, ou seja, que não há futuro para nós se destruirmos o meio ambiente que
nos sustenta.
Falhamos
na preservação da terra, da nossa casa-jardim, e na tutela dos nossos irmãos.
Pecamos contra a terra, contra o nosso próximo e, em última análise, contra o
Criador, o bom Pai que vela sobre todos e quer que vivamos juntos em comunhão e
prosperidade. E como reage a Terra? Há um ditado espanhol que é muito claro
sobre isto, e diz assim: “Deus perdoa sempre; nós, homens, às vezes; a terra,
nunca”. A terra não perdoa: se deteriorarmos a terra, a resposta será terrível.
Como
podemos restabelecer uma relação harmoniosa com a Terra e com o resto da
humanidade? Uma relação harmoniosa... Muitas vezes perdemos a visão da
harmonia: a harmonia é obra do Espírito Santo. Inclusive na casa comum, na
Terra, até no nosso relacionamento com as pessoas, com o próximo, com os mais
pobres, como podemos restabelecer esta harmonia? Precisamos de uma nova forma
de considerar a nossa casa comum. Atenção, ela não é um depósito de recursos a
explorar. Para nós crentes, o mundo natural é o “Evangelho da Criação”, que
exprime o poder criador de Deus de plasmar a vida humana e de fazer com que o
mundo exista juntamente com quanto contém para sustentar a humanidade. A
narração bíblica da Criação conclui da seguinte forma: Deus contemplou toda a
sua obra, e viu que tudo era muito bom (Gn 1,31). Quando vemos estas tragédias
naturais, que são a resposta da Terra aos nossos maus-tratos, penso: “Se agora
eu perguntar ao Senhor o que pensa Ele disto, acho que não me dirá que é algo
muito bom. Fomos nós que arruinamos a obra do Senhor!
Ao
celebrarmos hoje o Dia Mundial da Terra, somos chamados a reencontrar o sentido
do respeito sagrado pela Terra, porque ela não é apenas a nossa casa, mas
também a casa de Deus. É daqui que brota em nós a consciência de estarmos num
terreno sagrado!
Caros
irmãos e irmãs, despertemos o sentido estético e contemplativo que Deus colocou
em nós. A profecia da contemplação é algo que aprendemos sobretudo dos povos
originários, os quais nos ensinam que não podemos cuidar da Terra se não a
amamos nem a respeitamos. Eles têm esta sabedoria do “bem-viver”, não no
sentido de passar bem, não: mas de viver em harmonia com a Terra. Eles chamam a
esta harmonia “bem-viver”.
Ao
mesmo tempo, precisamos de uma conversão ecológica que se exprima em obras
concretas. Como família única e interdependente, temos necessidade de um plano
compartilhado, para prevenir as ameaças contra a nossa casa comum. A
interdependência obriga-nos a pensar num único mundo, num projeto comum. Estamos
conscientes da importância de colaborar como comunidade internacional para a
salvaguarda da nossa casa comum. Exorto quantos têm autoridade a liderar o
processo que levará a duas grandes Conferências internacionais: a COP15 sobre a
Biodiversidade, em Kunming (China), e a COP26 sobre as Mudanças Climáticas, em
Glasgow (Reino Unido). Estes dois encontros são deveras importantes.
Gostaria
de encorajar a organização de ações conjuntas também a nível nacional e local.
É bom convergir de todas as condições sociais e criar também um movimento
popular “a partir de baixo”. Foi precisamente assim que nasceu o próprio Dia
Mundial da Terra, que hoje celebramos. Cada um de nós pode dar a sua pequena
contribuição: E não se pense que estes esforços são incapazes de mudar o mundo.
Estas ações espalham na sociedade um bem que frutifica sempre para além do que
é possível constatar; provocam no seio desta terra um bem que tende sempre a
difundir-se, às vezes invisivelmente.
Neste
tempo pascal de renovação, esforcemo-nos por amar e apreciar o magnífico dom da
terra, nossa casa comum, e por cuidar de todos os membros da família humana.
Como irmãos e irmãs que somos, imploremos juntos ao nosso Pai celestial:
“Enviai o vosso Espírito e renovai a face da terra” (cf. Sl 104,30)
Fonte:
Catequese da Audiência Geral na ocasião do 50º Dia Mundial da Terra, 22 de
abril de 2020
Papa
Francesco VIDA APÓS A PANDEMIA (Um plano para ressuscitar)
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