quarta-feira, 3 de junho de 2020

SUPERAR OS DESAFIOS GLOBAIS


Discurso do Papa Francisco na Audiência Geral na ocasião do 50º Dia Mundial da Terra, 22 de abril de 2020.


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Bom dia, estimados irmãos e irmãs!

Hoje celebramos o 50º Dia Mundial da Terra. É uma oportunidade para renovar o nosso compromisso de amar a nossa casa comum e de cuidar dela e dos membros mais fracos da nossa família. Como a trágica pandemia do Corona vírus nos demonstra, só unidos e cuidando dos mais frágeis podemos vencer os desafios globais. A Carta Encíclica Laudato si’ tem precisamente este subtítulo: “Sobre o cuidado da casa comum”. Hoje refletiremos um pouco juntos sobre esta responsabilidade que distingue a nossa passagem por esta terra. Temos que crescer na consciência do cuidado da casa comum.

Somos feitos de matéria terrena, e os frutos da terra sustentam a nossa vida. Mas, como nos recorda o Livro do Génesis, não somos simplesmente “terrestres”: temos em nós também o sopro vital que vem de Deus (cf. Gn 2,47). Portanto, vivemos na casa comum como uma família humana e na biodiversidade com as outras criaturas de Deus. Como imago Dei, imagem de Deus, somos chamados a cuidar e respeitar todas as criaturas e a nutrir amor e compaixão pelos nossos irmãos e irmãs, especialmente pelos mais fracos, à imitação do amor de Deus por nós, manifestado no seu Filho Jesus, que se fez homem para partilhar conosco esta situação e para nos salvar.

Devido ao egoísmo, falhamos na nossa responsabilidade de guardiães e administradores da Terra. Basta olhar a realidade com sinceridade para ver que há uma grande deterioração da nossa casa comum. Poluímo-la, saqueámo-la, colocando em perigo a nossa própria vida. Por isso, formaram-se vários movimentos internacionais e locais para despertar as consciências. Aprecio sinceramente estas iniciativas e ainda será necessário que os nossos filhos saiam às ruas para nos ensinar o que é óbvio, ou seja, que não há futuro para nós se destruirmos o meio ambiente que nos sustenta.

Falhamos na preservação da terra, da nossa casa-jardim, e na tutela dos nossos irmãos. Pecamos contra a terra, contra o nosso próximo e, em última análise, contra o Criador, o bom Pai que vela sobre todos e quer que vivamos juntos em comunhão e prosperidade. E como reage a Terra? Há um ditado espanhol que é muito claro sobre isto, e diz assim: “Deus perdoa sempre; nós, homens, às vezes; a terra, nunca”. A terra não perdoa: se deteriorarmos a terra, a resposta será terrível.

Como podemos restabelecer uma relação harmoniosa com a Terra e com o resto da humanidade? Uma relação harmoniosa... Muitas vezes perdemos a visão da harmonia: a harmonia é obra do Espírito Santo. Inclusive na casa comum, na Terra, até no nosso relacionamento com as pessoas, com o próximo, com os mais pobres, como podemos restabelecer esta harmonia? Precisamos de uma nova forma de considerar a nossa casa comum. Atenção, ela não é um depósito de recursos a explorar. Para nós crentes, o mundo natural é o “Evangelho da Criação”, que exprime o poder criador de Deus de plasmar a vida humana e de fazer com que o mundo exista juntamente com quanto contém para sustentar a humanidade. A narração bíblica da Criação conclui da seguinte forma: Deus contemplou toda a sua obra, e viu que tudo era muito bom (Gn 1,31). Quando vemos estas tragédias naturais, que são a resposta da Terra aos nossos maus-tratos, penso: “Se agora eu perguntar ao Senhor o que pensa Ele disto, acho que não me dirá que é algo muito bom. Fomos nós que arruinamos a obra do Senhor!
Reflexões fundamentais para este Dia da Terra - ((o))eco
Ao celebrarmos hoje o Dia Mundial da Terra, somos chamados a reencontrar o sentido do respeito sagrado pela Terra, porque ela não é apenas a nossa casa, mas também a casa de Deus. É daqui que brota em nós a consciência de estarmos num terreno sagrado!

Caros irmãos e irmãs, despertemos o sentido estético e contemplativo que Deus colocou em nós. A profecia da contemplação é algo que aprendemos sobretudo dos povos originários, os quais nos ensinam que não podemos cuidar da Terra se não a amamos nem a respeitamos. Eles têm esta sabedoria do “bem-viver”, não no sentido de passar bem, não: mas de viver em harmonia com a Terra. Eles chamam a esta harmonia “bem-viver”.

Ao mesmo tempo, precisamos de uma conversão ecológica que se exprima em obras concretas. Como família única e interdependente, temos necessidade de um plano compartilhado, para prevenir as ameaças contra a nossa casa comum. A interdependência obriga-nos a pensar num único mundo, num projeto comum. Estamos conscientes da importância de colaborar como comunidade internacional para a salvaguarda da nossa casa comum. Exorto quantos têm autoridade a liderar o processo que levará a duas grandes Conferências internacionais: a COP15 sobre a Biodiversidade, em Kunming (China), e a COP26 sobre as Mudanças Climáticas, em Glasgow (Reino Unido). Estes dois encontros são deveras importantes.
Papa Francisco: tratar o meio ambiente com ternura - Vatican News
Gostaria de encorajar a organização de ações conjuntas também a nível nacional e local. É bom convergir de todas as condições sociais e criar também um movimento popular “a partir de baixo”. Foi precisamente assim que nasceu o próprio Dia Mundial da Terra, que hoje celebramos. Cada um de nós pode dar a sua pequena contribuição: E não se pense que estes esforços são incapazes de mudar o mundo. Estas ações espalham na sociedade um bem que frutifica sempre para além do que é possível constatar; provocam no seio desta terra um bem que tende sempre a difundir-se, às vezes invisivelmente.

Neste tempo pascal de renovação, esforcemo-nos por amar e apreciar o magnífico dom da terra, nossa casa comum, e por cuidar de todos os membros da família humana. Como irmãos e irmãs que somos, imploremos juntos ao nosso Pai celestial: “Enviai o vosso Espírito e renovai a face da terra” (cf. Sl 104,30)

Fonte: Catequese da Audiência Geral na ocasião do 50º Dia Mundial da Terra, 22 de abril de 2020
Papa Francesco VIDA APÓS A PANDEMIA (Um plano para ressuscitar)

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