A devoção mais antiga (século IX) é a
da dedicação do sábado a Maria
O culto de Maria é tão antigo
quanto a Igreja, remontando diretamente aos estímulos de louvor e de admiração
a ela oferecidos pelo Novo Testamento.
Esse culto manifestou-se pouco
a pouco ao longo dos séculos, segundo uma evolução especial. Nos primeiros
séculos, estava inserido nas festas que celebravam os mistérios de Jesus
Cristo, porque foi justamente d’Ele que Maria hauriu toda sua grandeza. Nisso não
houve nenhuma preocupação de interpretação errada de tipo pagão, como às vezes
se escreveu; era, ao contrário, cuidadosa atenção para não separar a proclamada
obra da Mãe da do Filho.
Talvez tenham sido
precisamente os pagãos, com Adriano, que tentaram sufocar o culto e a doutrina
judeu-cristã sobre Maria já delineada em seus elementos fundamentais na
primeira metade do século I. Maria esteve, portanto, presente no culto
litúrgico da Igreja primitiva, até porque, como ensina a história, a teologia
nasce da piedade e não ao contrário. Foram os títulos de “primeira entre os
crentes” e de “testemunha privilegiada do mistério de Cristo” que justificaram
e incrementaram o culto mariano.
Também o papel de intercessão
junto ao Senhor, de advogada, como a define Ireneu, nasceu bem cedo. No final
do século I e início do século II, alguns escritos apócrifos sobre Maria
exerceram extraordinária influência não só sobre o culto e sobre a devoção
popular, mas também sobre a pregação e sobre a arte religiosa. A devoção a Maria
fundamentou-se, substancialmente, no modelo que ela ofereceu de vida de fé e de
total abertura ao dom e à ação do Espírito Santo. Desde o século IV, Maria é
louvada como magnífico modelo de vida virginal, entendida como sinônimo de
santidade. Desde o século V, afirmou-se uma festa própria que celebrava a Mãe
de Deus em união com o mistério da Encarnação do Verbo (por isso, a data da
festa cai normalmente em dezembro, pouco antes do Natal).
No Oriente, os aspectos
naturais de Nossa Senhora levaram, desde essa mesma época, a celebrar a festa
da Natividade (8 de setembro), da Anunciação (25 de março), da Purificação (2
de fevereiro), da Assunção (15 de agosto), festas essas que entraram também nas
liturgias ocidentais por obra do papa, de origem Síria, Sérgio I. Na Idade
Média, difundiu-se no Ocidente uma particular piedade mariana que levou a
substituir a Igreja por Maria. Isso a partir da constatação de que Maria
permaneceu fiel a Jesus, mesmo durante os dias obscuros da paixão e morte, e
somente ela, portanto, era a Igreja naqueles dias. Ela aparece como verdadeira
mãe espiritual dos crentes, como a mãe de misericórdia e o socorro dos
cristãos. Depois da escolástica, devido ao desenvolvimento da mariologia, foram
celebradas as festas da Visitação (2 de julho), da Imaculada (8 de dezembro),
da apresentação no Templo (21 de novembro).
Fatos particulares da
cristandade pós-tridentina deram origem às festas do Rosário (7 de outubro) e
do Nome de Maria (12 de outubro). Tornaram-se universais as festas que eram
próprias de ordens religiosas, como a do Carmelo (16 de julho), de N. Sra. das
Dores (15 de setembro), do Coração de Maria (22 de agosto) e várias outras que
se originaram de devoções particulares, entre as quais a de Maria Rainha (31 de
maio). A partir do século XI, desenvolveu-se entre os eclesiásticos, as pessoas
religiosas e as confrarias o pequeno Ofício de Nossa Senhora, sempre presente
nos livros das Horas. Nos séculos XVI e XVII, a piedade mariana assumiu às
vezes formas aberrantes, especialmente na Itália, França e Espanha.
Foi atribuído a Maria em certo
sentido o título de deusa e ela foi indicada como uma espécie de quarta pessoa
da Trindade. Ao contrário, nos países atingidos pela Reforma tentou-se separar
a Virgem de Cristo. De qualquer modo, os exageros do culto católico para com
Nossa Senhora provocam nos protestantes um progressivo afastamento da piedade
mariana. O culto a Nossa Senhora retoma fôlego em escala mundial na era
contemporânea, sob o estímulo de eventos prodigiosos. São sobretudo as
aparições de Maria em Paris na rue du Bac (1830), em La Salette (1846) e em Lourdes
(1854) que voltam a dar-lhe vigor. O culto a Maria conhece um desenvolvimento
tão forte também por reação à irrupção no cenário mundial de várias ideologias
atéias, como o iluminismo, o liberalismo e o marxismo, bem como à difusão do
modernismo. A teologia mariana do período padece, porém, de decadismo e de
mediocridade.
Só no século XX é que surge um
movimento mariano com objetivos e iniciativas elevados, denso de conteúdo
teológico. As diversas Igrejas protestantes estão de acordo em reconhecer em Maria
os três atributos de santa, virgem e mãe de Deus, atendo-se rigidamente às
palavras da sagrada Escritura, sem deduzir delas outros privilégios. O culto
prestado a Maria varia nas diversas Igrejas: em geral seu nome é lembrado nas
orações a Deus enquanto mãe do Senhor; todavia, encontram-se também orações
dirigidas diretamente a ela, mas somente por honra e louvor à mãe de Deus como
modelo de fé e pelos benefícios com que foi gratificada por Deus. As devoções
populares tiveram as mais válidas expressões na recitação do Angelus Domini,
três vezes ao dia, bem como do santo rosário com a meditação dos quinze
mistérios, no mês de maio. A devoção mais antiga (século IX) é a de dedicação
do sábado a Maria e a que mais se divulgou foi a do canto das ladainhas de
Nossa Senhora.
Testemunhas do culto e da
devoção são as catedrais dedicadas a Nossa Senhora, sobretudo do século IX ao
século XV, verdadeiras jóias da arquitetura, bem como um grande número de
ícones, quadros, afrescos e estátuas. Essa devoção recebeu sempre incremento
dos santuários marianos, nascidos às vezes no local das aparições de Nossa
Senhora, como Caravaggio, Lourdes, Fátima, Guadalupe; às vezes por devoções
particulares, como no Sagrado Monte de Varese e no de Varallo, em Loreto, em
Pompéia, em Mariazell; ou também pela presença de imagens de Maria consideradas
milagrosas, como em Jasna Gora, Tinos; ou ainda após lacrimações de imagens, de
estátuas ou de baixo-relevos de Nossa Senhora, como em Siracusa. Esses
santuários constituem local de contínuas peregrinações, lugares em que se
manifesta com evidência a cada vez mais difundida piedade popular
mariana.
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