Nesta
próxima quinta-feira, celebraremos a solenidade de “Corpus Christi”. A palavra
“Corpus Christi”, vem da língua latina e tem como significado: Corpo de Cristo.
É uma festa que celebra a presença real de Cristo na Eucaristia. É realizada na
quinta-feira seguinte ao domingo da Santíssima Trindade que, por sua vez,
acontece no domingo seguinte de Pentecostes. É uma festa de preceito, isto é,
devemos participar da celebração da Missa neste dia. A procissão pelas vias
públicas atende a uma recomendação do Código de Direito Canônico (Cân. 944) que
determina ao Bispo diocesano que a providencie, onde for possível, “para
testemunhar publicamente a veneração para com Santíssima Eucaristia, principalmente
na solenidade do Corpo de Sangue de Cristo”. É recomendado que nestas datas, a
não ser por causa grave e urgente, não se ausente da diocese o Bispo (Cân. 395
SS3). Em muitas cidades é costume ornamentar as ruas por onde passa a procissão
com tapetes de colorido vivo e desenhos de inspiração religiosa. Esta
festividade de longa data se constitui uma tradição no Brasil, principalmente
nas cidades históricas, que se revestem de práticas antigas e tradicionais e
que são embelezadas com decorações de acordo com costumes locais.
A
origem da solenidade do Corpo e sangue de Cristo remonta ao século XIII. Esta
solenidade litúrgica foi Instituída pelo Papa Urbano IV(1262-1264), através da
bula “transiturus”, de 11 de Agosto de 1264, para ser celebrada na Quinta-feira
após a festa da Santíssima Trindade, que acontece no domingo depois de
Pentecostes. Urbano IV, antes de ser escolhido Papa, foi Cônego de Liége
(Bélgica) e se chamava Tiago Pantaleão de Troyes, o mesmo que recebeu o segredo
das visões da Freira Juliana de Liége, que pedia uma festa da Santa Eucaristia
no calendário litúrgico. Esta solenidade entra no calendário litúrgico da
Igreja para evidenciar e enfatizar a presença real do Senhor Jesus no pão
e no cálice consagrados.
Conta
à história que um sacerdote chamado Pedro de Praga, muito piedoso e zeloso
pastoralmente, vivia angustiado por dúvidas sobre a presença real de Cristo no
pão consagrado. Decidiu então ir em peregrinação ao túmulo dos Apóstolos Pedro
e Paulo em Roma, para pedir o dom da fé. Ao passar por Bolsena (Itália),
enquanto celebrava a Santa missa, foi novamente acometido pela dúvida. Na
hora da consagração veio-lhe a resposta em forma de milagre: A sagrada hóstia
branca transformou-se em carne viva, respingando sangue, manchando o corporal
(paninho branco no qual é colocado as sagradas espécies consagradas), o
sanguíneo (Paninho de limpar o cálice) e a toalha do altar. Por solicitação do
Papa Urbano IV, os objetos milagrosos foram para Orviedo em solene procissão.
Esta foi a primeira procissão com sinais da Eucaristia. Em 11 de Agosto de
1264, o Papa lançou de Orviedo para o mundo Católico o preceito de uma festa
solene em honra do corpo e sangue do Senhor.
As
revelações particulares são importantes pois atualizam na história as grandes
verdades da fé já reveladas e que necessitam de um incremento em um certo
momento da história. Era importante que nesse século e a partir desse tempo
pudéssemos fazer a grande “marcha com Jesus” em nossas cidades levando a
Eucaristia solenemente fazendo memória da instituição da mesma que celebramos
na quinta feira da semana santa.
A festa de “Corpus Christi”, é um convite para uma meditação sobre o valor e a
importância da Eucaristia em nossa vida. A Eucaristia é um dos sete Sacramentos
e foi instituído na Última Ceia, quando Jesus disse: “Este é o meu Corpo… Isto
é o meu Sangue… fazei isto em memória de mim” (Mt 26,26). Assim, vemos que quem
pediu que nós ao longo dos tempos e da história celebrássemos a Eucaristia foi
o próprio Cristo. A Igreja Católica cumpre este mandato até hoje, para
perpetuar a presença salvadora de Jesus na história. O texto
bíblico mais evidente e claro sobre a doutrina da Eucaristia é o capítulo
6 de São João. Todo ele é um discurso Eucarístico de Jesus que disse “Eu
sou o pão vivo descido do céu. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue
permanece em mim e eu nele” (Jo 6,56). A Eucaristia é a realização da
promessa de Jesus que disse: “Eis que estarei convosco até a consumação dos
séculos”(Mt 28).
Santo
Tomás de Aquino afirmou: “Nenhum outro sacramento é mais salutar do que a
eucaristia. Pois, nele os pecados são destruídos, crescem as virtudes e a alma
é plenamente saciada de todos os dons espirituais. A Eucaristia é o memorial
perene da paixão de Cristo, o cumprimento perfeito das figuras da antiga
aliança e o maior de todos os milagres que Cristo realizou” que a Eucaristia
constitui o maior milagre realizado por Jesus neste mundo. A celebração
de Corpus Christi consta de uma Missa, procissão e adoração ao
santíssimo Sacramento. O destaque maior neste dia é a procissão com o
Santíssimo, a qual recorda a caminhada do povo de Deus, como um povo peregrino
neste mundo. No antigo testamento o povo foi alimentado pelo Maná, no deserto.
Hoje, é alimentado com o próprio corpo e sangue de Cristo.
Jesus, Pão do céu e médico celeste que cura e liberta todos aqueles que o
buscam. Só ele é capaz de preencher os nossos vazios existenciais e plenificar
nossa vida. Façamos parte do seu discipulado! A vida cristã consiste em
viver em Jesus Cristo, com Jesus Cristo e por Jesus Cristo neste mundo, ou
seja, fazer da vida uma Eucaristia para os irmãos, como Fez o Senhor
Jesus. Que o Senhor Jesus, visibilizado pelo dom celestial da Eucaristia,
abençoe nossas famílias.
Cardeal
Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Fonte: https://www.cnbb.org.br/corpus-christi-6/